O evento entregou mais de 200 certificados e contou com a presença de seus familiares e representantes de várias entidades
Pela primeira vez a Câmara Municipal do Recife celebrou, na tarde desta segunda-feira (19/06), o Dia Mundial do Orgulho Autista, durante uma reunião solene promovida pela vereadora Liana Cirne (PT).
Durante discurso na tribuna, Liana, que também é mãe atípica, falou de sua experiência e que conhece de perto os desafios do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“Muitas das mães que estão aqui nós conhecemos nas lágrimas, no grito, no choro, na raiva. Quem é mãe e pai de autista sabe que não é fácil”, relatou a parlamentar.
Muito emocionada, Liana abordou sobre situações cotidianas que as famílias enfrentam.
“Ser convidado para uma festa de aniversário, que é uma coisa cotidiana e nossos filhos não são”, lamentou,“A demora de um diagnóstico nos faz perguntar: por que não somos iguais aos outros, por que nossos filhos não são iguais aos outros?”, perguntou.
A parlamentar destacou a necessidade de combater a exclusão e as dificuldades cotidianas enfrentadas. Liana Cirne afirmou também do orgulho que se deve ter em ser autista e do amor que norteiam os relacionamentos familiares: “Se pudesse escolher mil vezes, escolheria ser mãe de uma pessoa autista”.
A vereadora então chamou à tribuna seu filho, o estudante Pedro Lins (17 anos) que falou da sua vivência como pessoa autista, das dificuldades na socialização e do quanto foi importante ter o diagnóstico e as informações.
“Eu comecei a me entender, pesquisar e entender. Eu não tenho vergonha sobre quem eu sou. Eu estou aprendendo mais sobre mim mesmo. A importância desse Dia é ter orgulho. Eu sou eu”, finalizou dando um abraço forte em sua mãe.
A solenidade foi bastante prestigiada, contando com a presença de pessoas autistas, seus familiares e representantes de entidades.
Além da vereadora proponente da reunião solene, a mesa de honra foi presidida pela vereadora Ana Lúcia (Republicanos) e contou com a presença de Cátia Bensoussan, pessoa autista, ativista e especialista em comportamento organizacional; João Carlos Leitão, pessoa autista, ativista e psiquiatra; Ediane Marques de Oliveira, pessoa autista, mãe de autista, ativista e pedagoga; Paulo Ricardo Anjos do Monte, biomédico, ativista e cofundador da Liga Neurau; e o secretário-executivo de Direitos Humanos da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos, Jayme Asfora.
Na tribuna da Casa de José Mariano, se alternam outros depoimentos emocionados que revelaram dificuldades e superação, mas sobretudo orgulho em ser autista.
O psiquiatra João Carlos Leitão também fez suas considerações e relatou um pouco da sua história de vida. “Eu entrei na psiquiatria para me entender”, refletiu.
Ele agradeceu a vereadora pela homenagem em reconhecimento à militância na causa do autismo e fez relatos sobre o diagnóstico tardio. Disse que só descobriu ser autista já na fase adulta.
Os problemas para se obter o diagnóstico também foram abordados pela pedagoga Ediane Marques de Oliveira. Ele é autista e mãe de autista.
“O diagnóstico da mulher autista é mais difícil, mas é libertador ter o diagnóstico certo”, afirmou. “Antes, era como se a gente tivesse num cantinho excluído. Quando se tem o diagnóstico, a gente passa a ter orgulho e dizer, “eu sou assim”.
O objetivo da data é desfazer concepções negativas sobre o autismo, promovendo ações de conscientização no sentido de que ele não é uma doença, mas uma variação neurológica natural da diversidade humana, que produz formas distintas e atípicas de pensamento, mobilidade, interação, processamento sensorial e cognitivo, e que deve ser respeitada.